I@smine

O texto a seguir é baseado em minhas impressões particulares após assistir ao filme "Taare Zameen Par (título original) / Somos todos diferentes (título em Português)". NÃO SE TRATA, PORTANTO, DE UMA SINOPSE. 



E enquanto existirem palavras dançantes e pessoas dispostas a ensinar-lhes a coreografia, continuo a acreditar em um mundo com mais amor.                      

 É indescritível a vontade de fazer deste texto um campo alagado por uma tempestade de adjetivos de prestígio. Pense em qualquer elogio e ele se encaixará perfeitamente ao filme “Somos todos diferentes”. Sempre gostei de tentar ser original em meus escritos, mas neste momento já não me importo quantos já escreveram sobre a beleza de tal obra prima_venho aceitando melhor a ideia de mundo como uma rede intertextual e a origem como uma ilusão.
 Talvez haja erros de produção, mas, definitivamente, não sei dizer e sinto pesar ao pensar em alguém que se dedique a observá-los. Esse filme não abre espaço para críticas técnicas, porque nos envolve sentimentalmente com a realidade retratada.  Não há quem não tenha se sentido incompreendido ao menos uma vez na vida, daí a comoção com a situação do protagonista, o menino “Ishaan Awasthi”.  É ficção, mas é arte representando a vida, ampliando o senso comum e proporcionando o reconhecimento do público com a obra. Pura contradição à teoria de Barthes sobre a impossibilidade da literatura fazer referência ao mundo real.
 Após o filme, a sensação é de desejo de ter o coração como o do professor “Ram Shankar Nikumbh", personagem do filme. E sabendo que no mundo há pessoas com tal adiantamento moral_e outras que tanto necessitam de auxílio, é que nos sentimos inspirados a também fazer algo de especial.  

*Agradecimento especial a minha amiga Pamela Bahia Araújo, que me apresentou aquele que viria a ser o melhor filme que já assisti.

  • Título no Brasil:  Somos Todos Diferentes
  • Título em Inglês:  Like Stars on Earth
  • Título Original : Taare Zameen Par
  • Escrito por: Amole Gupte
  • Produção e direção: Aamir Khan
  • País de Origem:  Índia
  • Gênero: Drama
  • Tempo de Duração: 165 minutos
  • Ano de Lançamento: 2007


Mais informações : http://www.taarezameenpar.com/
Link para assistir online: http://www.saudadeeadeus.com.br/filme262.htm 
(cuidado para não clicar nos anúncios e em outros links que pareçam vírus) 


I@smine


 Como toda pessoa comum vivo a fazer pequenos planos para essa existência breve. Já pensei em entrar em aulas de canto, mas por ser puramente exaltação da vaidade é plano para um tempo extremamente livre que provavelmente não terei. Tento tocar violão porque amo a melodia dos acordes, mas me falta paciência. Quero resultados imediatos e deste modo não concluo uma canção.
 Tudo bem, por agora resolvi aceitar que não canto, não toco, escrevo! Talento , talvez talento, que não se mostra em um show e nem atinge a todos. Talento de poucos... Tantos são os que pensam tê-lo e na verdade... Eu o tenho? Não há segredo em escrever o que se sente, então se sinto logo escrevo e é essa a minha arte. Arte? Parte do meu ser desvelado, despido, escrito e nada mais.
 Escrever é saída quando do mundo estou exausta e se faço parte do mundo, por hora, de mim também me canso. Cansada de atitudes mesquinhas que tenho procuro algo bom dentro da alma, todos têm. Eu gosto do que faço. Desde que me desvinculei de termos como “incomensurável” aprendi que escrever é muito mais do que juntar palavras bonitas, porque não se aprende de fato, se vive.
 Não minto, entretanto, ter amado descobrir que quando proseava sobre o processo de escrever aquilo tinha um nome. Eu era metalinguagem e não sabia. Citei autores e frases e hoje sei que eu era intertextualidade. É como se contassem à borboleta que o bater de suas asas tem um substantivo que o designa e até mesmo teorias que o envolve. Era tudo tão natural e de repente, cientificidade!
 E quanto mais eu conhecer e mais souberem que conheço, mais cobrarão de minha literatura. Minha literatura sou eu e por mais regras que aprenda é a semântica do meu ser que fala mais alto. Não cobre do meu ser seguir padrões, eu poderia até tentar, mas seria artificial e meu texto seria industrializado, transgênico. E essa é minha arte. Arte! Porque é o que faço com mais amor e é natural como o bater das asas da borboleta: simples complexidade, voluntariedade involuntária... Dito isso e sou paradoxo!
I@smine


Hoje descobri que tenho um admirador secreto, recebi notícias de terceiros. É engraçada essa situação de saber que faço acelerar o coração de um desconhecido que pouco, ou nada, sabe sobre minha personalidade. Talvez, se me conhecesse de perto se desiludisse ou encontrasse motivos para continuar na ilusão.
Admito que considero ‘doce’ a inocência quase infantil da situação, já que ultimamente é raro encontrar alguém que admire em segredo (não sei se ainda pode-se considerar segredo). Eu mesma não sei lidar bem com sentimentos guardados... Sentimentos? Ou seria mero encantamento com uma imagem-miragem, sem fundamento em algo maior?
Considero o ocorrido digno de nota, não pelo fato em si, mas por fazer parte de um sistema que se repete em todos os lugares e tempos. A “Quadrilha”¹ de Drummond presente em tantas vidas. Parece vício gostar de quem não nota, enquanto quem se importa é transparente ao nosso olhar. E neste momento me sinto Teresa, ou Maria, quem sabe... Só não desejo compartilhar-lhes o destino. E enquanto os olhares forem difusos e ninguém se propuser a modificar tal realidade, eles não significarão mais que paixõezinhas vazias, sem perspectivas e perdidas no tempo.

¹ Poesia de Carlos Drummond de Andrade:

QUADRILHA

João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história
I@smine
Eu sou prosa, você é poesia, entretanto, um único (único!) contexto .
Iasmine
I@smine
Estudando literatura atrevi-me a um soneto
Sempre achei muito para mim
domar os pensamentos, organizá-los assim
obedecendo a tercetos e quartetos

Minha escrita cotidiana chamo de prosa versada
Não obediente aos padrões de métrica, mas as vezes ritmada
Já estou no sétimo verso, faltam só metade
tanto é o que quero dizer  e não digo nada em verdade

Temo estar imitando Gregório de Matos (não sou ninguém)
No seu soneto ao conde de Ericeira D. Luís de Meneses*
Entretanto não comecei meu soneto em gabo (irônico) de alguém

Metalinguístico, intertextual, melhor do que esperava, confesso
fruto de tentativa, semi-êxito, já é bom
não imaginava ao menos conter-me ao décimo quarto verso.


*
Ao conde de Ericeira D. Luis de Meneses pedindo
louvores ao poeta não lhe achando ele préstimo
algum

Um soneto começo em vosso gabo;
Contemos esta regra por primeira,
Já lá vão duas, e esta é a terceira,
Já este quartetinho está no cabo.

Na quinta torce agora a porca o rabo:
A sexta vá também desta maneira,
na sétima entro já com grã canseira,
E saio dos quartetos muito brabo.

Agora nos tercetos que direi?
Direi, que vós, Senhor, a mim me honrais,
Gabando-vos a vós, e eu fico um Rei.

Nesta vida um soneto já ditei,
Se desta agora escapo, nunca mais;
Louvado seja Deus, que o acabei.

Gregório de Mattos